Economistas projetam crescimento maior do PIB, mas eleições e negociações sobre reforma da Previdência são fatores de incerteza

Depois de dois anos de recessão e um 2017 marcado por recuperação lenta, a previsão entre os economistas, assim como as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do próprio governo, é de que a economia brasileira vai crescer com mais força em 2018. No entanto, projeções sobre indicadores como câmbio, juros e inflação divergem em meio às incertezas sobre as eleições e reformas econômicas.

PIB

Os economistas estão mais otimistas em relação ao crescimento econômico do ano, embora ressalvem que as discussões sobre as reformas econômicas (especialmente a da Previdência) e a possível instabilidade que a disputa eleitoral pode ocasionar no mercado financeiro podem tornar o cenário incerto.

“A gente acredita que, sim, provavelmente o crescimento em 2018 da economia vai se acelerar. Se isso vai ser sustentável ou não depende, em grande parte, do andamento das reformas”, avalia Felipe Salles, economista do Itaú Unibanco. Ele prevê um crescimento de 3% do PIB.

Sobre o que vai puxar esse crescimento mais expressivo em 2018, Alessandra Ribeiro, economista-chefe da Tendências Consultoria, aponta o consumo das famílias como a principal contribuição positiva. Grande parte disso se deve ao ciclo de corte de juros, iniciado pelo Banco Central ainda em 2016.

Para ela, o processo de redução da taxa básica de juros foi significativo, e está começando a bater na economia agora. Ela explica que há uma defasagem de 6 a 9 meses entre a redução da taxa e o efeito na economia.

Eduardo Velho, economista-chefe e diretor do Banco Banestes, também cita o consumo das famílias, os investimentos e a queda dos juros como fatores positivos para o ano, e acrescenta ainda o bom desempenho da agricultura.

Para ele, o país “está realmente com um sinal de alta generalizada”. Ele acredita que a alta do PIB em 2018 será de 3,3%. “É um crescimento bom, sem pressão inflacionária”, aponta.

Em outubro, o FMI melhorou as projeções para a economia brasileira. Em 2018, a projeção do fundo é de alta de 1,5% do PIB. Já o governo estima uma alta maior do crescimento, e projeta avanço de 3% no ano. Já a projeção do mercado financeiro é de alta de 2,7%, segundo boletim Focus, do Banco Central.

Inflação

Após a inflação reduzir com força o poder de compra das pessoas nos dois anos anteriores, 2017 foi marcado por uma desaceleração da alta de preços. Para 2018, a previsão dos economistas é que a inflação volte a ganhar força, mas ainda se mantendo dentro da meta de 4,5% do Banco Central – e longe dos altos índices dos anos anteriores.

Salles acredita que “os itens que podem subir são os alimentos, que em 2018 devem normalizar, e bens industriais com o dólar voltando a subir um pouquinho”. Neste ano, a supersafra levou à queda do preço dos alimentos.

A projeção do FMI para a inflação no Brasil em 2018 é de 4%.

Taxa de câmbio

Os economistas são unânimes ao apontar 2018 como um ano de instabilidade para o mercado financeiro, diante do cenário eleitoral incerto. Eles avaliam que, até o final do ano, a tendência é que o dólar se estabilize, mas não há consenso sobre o patamar em que a moeda irá se firmar em relação ao real. Com projeção de R$ 3,40 para o dólar ao término de 2018.

Já Salles prevê que o dólar atinja R$ 3,50 e, além das eleições, ele cita ainda “alguma incerteza em relação ao avanço das reformas” e, externamente, o rumo dos juros nos Estados Unidos.

Na outra ponta, Velho prevê que o dólar fique em patamar mais baixo, entre R$ 3,10 e R$ 3,30. No entanto, caso o cenário eleitoral seja mais turbulento do que o mercado espera, ele não descarta que a moeda chegue aos R$ 3,60.

“O grande período de teste sobre a dinâmica do câmbio é o 2º trimestre, quando estiverem definidos os candidatos (à presidência) e conhecido se a reforma da Previdência vai ser aprovada ou não”, afirma o economista.

Juros

Os economistas acompanham as indicações do Banco Central em relação ao rumo da taxa Selic, que terminou o ano em 7% ao ano. A grande dúvida é sobre o patamar que deverá ser fixado para manter a inflação na meta de 4,5%.

A dúvida sobre a taxa de juros se deve às fortes oscilações esperadas para o dólar em 2018. Como vários itens vendidos no Brasil são importados ou são feitos com componentes importados, uma eventual alta do dólar poderá pressionar a inflação. Um dos principais instrumentos do BC para segurar a inflação é a alta dos juros.

Salles aposta em uma Selic menor, de 6,5%, porque “a inflação está muito bem-comportada, o que permite a taxa de juros mais baixa”. No entanto, ele ressalva que, “para frente, [o rumo dos juros] vai depender do andamento das reformas”.

Para Velho, há possibilidade de alta na Selic em 2018 dependendo do cenário eleitoral. “Se o câmbio ficar de forma consistente no patamar entre R$ 3,50, e R$ 3,60, e a inflação sobe para 5%, aí os juros, na minha opinião, têm que subir gradativamente para 8,5% até 2019”, considera.

Desemprego

Apesar de a taxa de desemprego ter começado a cair em 2017, muitos brasileiros ainda não sentem uma melhora efetiva do mercado de trabalho. Uma das razões é que, durante o ano, a grande maioria dos postos de trabalho criados no Brasil foi composta de vagas informais.

No entanto, mesmo nesse cenário, Salles comenta que “o pior do desemprego já ficou para trás”, e prevê que a taxa de desemprego encerre 2018 em 11,9%.

“A tendência para o próximo ano é que a gente passe a ver o emprego formal crescendo com mais força”, diz Salles.

No entanto, para 2018, Ribeiro e Velho alertam que a taxa de desemprego deve ser analisada com cuidado. Isso porque, com a recuperação da economia se fortalecendo, muitas das pessoas que haviam desistido de procurar emprego (e que, portanto, saíram das estatísticas sobre desempregados) devem voltar às buscas, impactando o índice de desocupação.

“Quando você tem uma economia em recuperação de forma sólida e consistente, as pessoas que estavam estudando ou fora do mercado começam a procurar emprego. E a oferta de trabalho não cresce no mesmo ritmo, o número de pessoas que procuram emprego é maior”, explica Velho.

Mas, de maneira geral, Ribeiro diz que “as notícias sobre o mercado de trabalho têm sido boas, melhores do que se estava imaginando, e essa tendência deve continuar em 2018”. Ela projeta que a taxa de desemprego termine 2018 em 12,4% – um índice maior que o registrado nos últimos meses, justamente em meio a esse aumento da quantidade de pessoas que devem voltar a procurar trabalho. Informações BC

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here