Partidos que lutaram para derrubar então presidente têm filiados
importantes envolvidos com máfia do ‘bicho’

Collor vivendo o outro lado da história.
Em mais uma evidência de que a política é uma roda-gigante que
não para, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) acaba de ser escalado
como um dos membros da CPI criada e instalada no Congresso Nacional para apurar
as ligações de políticos com o banqueiro do jogo-do-bicho Carlinhos Cachoeira.
A roda-gigante andou porque, há exatos 20 anos, o mesmo Fernando
Collor, então presidente da República, era dinamitado por outra CPI, criada
para investigar o envolvimento do empresário alagoano Paulo César Farias Cavalcanti,
o PC Farias (seu amigo pessoal e tesoureiro de campanha), com o governo
federal.
A CPI abriu caminho para a instauração de um processo de
impeachment que acabaria por derrubar Fernando Collor da Presidência. À frente
de tudo, comandando as ações contra Collor, os grandes partidos políticos PMDB,
DEM, PSDB e, especialmente, o PT que perdera a disputa presidencial com a
derrota de Lula para Collor.
Agora, por ironia do destino e da roda-gigante, Collor se
encontra do outro lado e lhe caberá julgar, dentre muitos outros, três
personagens de destaque da política nacional, cujos partidos conspiraram juntos
para destituí-lo do poder em 1992.
Como uma andorinha só, que não faz verão, Collor não decidirá
nada sozinho na nova CPI, mas suas posições e suas opiniões ressoarão na mídia
nacional com grande repercussão, sobretudo que ele se referir aos seguintes
personagens, principais alvos de investigação da Comissão Parlamentar de
Inquérito:
Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), senador
Demóstenes foi o primeiro nome a surgir depois da prisão de Cachoeira. As
investigações mostram uma íntima ligação entre o bicheiro e o senador, e seus
indícios apontam para a hipótese de Demóstenes ter atuado mesmo como uma
espécie de lobista do bicheiro e de seus interesses no Congresso. As
investigações incialmente mostraram que havia uma intensa troca de telefonemas
entre Demóstenes e Cachoeira. Depois, descobriu-se que Cachoeira comprara em
Miami rádios-telefones do tipo Nextel para falar com Demóstenes com risco menor
de ser grampeado. Nas conversas, Demóstenes é tratado por Cachoeira como
“doutor”, e trata o bicheiro pelo apelido de “professor”.
Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás
A chefe de gabinete do governador de Goiás foi demitida depois de
flagrada vazando informações de investigações da Polícia Federal ao prefeito de
Águas Lindas (GO). Grampos telefônicos mostram que Cachoeira conseguia nomear
apadrinhados políticos no governo de Perillo. O governador diz que só conversou
com o bicheiro para falar de assuntos da indústria farmacêutica. A Delta tem
contrato de locação de veículos no estado.
Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal
Escutas telefônicas mostram interlocutores dizendo que Agnelo pediu um encontro
com Cachoeira. Os grampos ainda revelam a tentativa do grupo de emplacar
apadrinhados no Governo do Distrito Federal, que mantém contratos com a Delta
na área de coleta de lixo. Diálogos sugerem que o grupo de Cachoeira pagou a
servidores do governo de Brasília para que a Delta recebesse pelos serviços
prestados. Também há indícios de que o governo do Distrito Federal acessou
dados sigilosos de adversários. Da Casa Militar do GDF, por exemplo, policiais
acessaram dados do deputado Francisco Francischini (PSDB-PR), logo depois de
ele fazer um pedido de prisão do governador Agnelo Queiroz.

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