A iminência de uma campanha municipal em São Paulo com nomes de pouca experiência em disputas por cargos majoritários eleva a bolsa de apostas para 2012 em torno dos padrinhos desses candidatos. Diante desse cenário, os partidos esperam que a influência de suas principais lideranças faça a diferença daqui a dez meses.

Nem todos os analistas, porém, estão tão certos do poder de fogo de padrinhos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal fiador da candidatura do ministro Fernando Haddad em São Paulo, numa disputa municipal. ‘O apoio dele é mito’, arrisca o sociólogo e cientista político Alberto Carlos Almeida, sócio-diretor do Instituto Análise.
A avaliação de Almeida é baseada nas últimas derrotas do PT na capital paulista, principalmente em 2008, quando Marta Suplicy foi derrotada por Gilberto Kassab (PSD). Para ele, a melhor saída para o prefeito em 2012 tem ‘nome e sobrenome: Henrique Meirelles’.
As próximas eleições podem influir na sucessão presidencial de 2014?
Não influenciarão em nada. Nas eleições municipais de 2008, por exemplo, Kassab venceu a disputa para a maior prefeitura do País e o impacto disso em 2010 (quando Dilma Rousseff se elegeu presidente) foi nulo.
O que está em jogo na disputa em São Paulo?
Serão definidas forças para a sucessão estadual em 2014. Isso é o mais importante. Como Kassab tende a concorrer, ele precisa manter o controle da Prefeitura. Nessa lógica, seu candidato tem nome e sobrenome: Henrique Meirelles (ex-presidente do Banco Central, filiado ao PSD).
Mesmo sem experiências em eleições majoritárias?
Antes de prepará-lo, Kassab precisa melhorar sua própria avaliação. Seu candidato pode ter o maior carisma do mundo, mas, se sua administração não tiver apoio popular, não elege nem o Lula. Caso consiga isso, é inteiramente possível preparar Meirelles, um nome forte.
Haddad leva vantagem por ter o apoio de Lula?
O apoio do Lula é mito. Ele apoiou muitos derrotados nas eleições de 2008. Em 2010, sim, Lula foi fundamental para eleger sua sucessora. Prefeito é crucial para eleger prefeito; governador para eleger governador; presidente para eleger presidente. Fora disso, é mito.
A escolha do PT foi acertada?
É muito boa. O partido já terá os votos da periferia. E, com Haddad, o PT opta por alguém palatável não só na periferia. Esses votos já serão do PT, seja qual for o candidato. Ele poderá tentar abrir uma folga muito grande nas classes mais baixas ou investir nas mais altas.
E quanto a Marta Suplicy?
Ela era a certeza da derrota, enquanto Haddad é a incerteza da vitória e da derrota.
E a escolha do deputado Gabriel Chalita (PMDB) para disputar a Prefeitura de São Paulo?
Será uma campanha difícil para ele por já haver uma disputa entre PT, PSDB e Kassab. Chalita terá de mostrar serviço. Sobre o PSDB, sem nome definido, espero por um bom desempenho.
Com Haddad, Chalita e Meirelles na disputa, essa eleição terá algo novo em pauta?
Apenas os nomes são novos. Todos passam pelas grandes estruturas partidárias das forças políticas já presentes em São Paulo.
Qual sua visão sobre as eleições de outras cidades do País?
Nas capitais, as disputas sempre refletem candidaturas estaduais. Mas não se pode imaginar que um prefeito eleito terá influência numa eleição presidencial. José Serra apoiou Kassab em 2008, por exemplo, e teve seu apoio na eleição presidencial de 2010. Foi derrotado.
A presidente Dilma deve entrar na campanha, como Lula fazia?
Difícil dizer. Ela não parece estar preocupada com isso. Não é alguém do mundo eleitoral como Lula, com política nas veias desde o sindicato. Não parece ser do feitio de Dilma esse envolvimento. O que pode ser bom, inclusive, à medida que não deve entrar em conflitos.
E quais serão os grandes temas em 2012?
Uma eleição municipal sempre se pauta pelo interesse local. Nas grandes cidades, eles tendem a ser bem variados. Nas pequenas e médias, a saúde é tema obrigatório. A saúde está sempre em pauta por ser um problema insolúvel.
Sociólogo e cientista político, é especialista em análise de dados e pesquisas e autor, entre outros, dos livros A Cabeça do Brasileiro, A Cabeça do Eleitor e Erros nas Pesquisas Eleitorais e de Opinião. (Elizabethe Lopes – Agencia Estado).

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