O Cine Nazaré resiste há 76 anos, no bairro Otávio Bonfim, guardando imagens de uma Fortaleza antiga e calma onde os cinemas de ruas movimentavam a cidade

Julia Ionele aluna do curso de jornalismo da Universidade Federal do Ceará, fez do trabalho de conclusão de curso um arquivo de memórias de uma Fortaleza que já não existe mais. A estudante, que cursa o oitavo semestre da graduação, escreveu o livro-reportagem sobre o Cine Nazaré, o último cinema de bairro da capital cearense e do Brasil. O livro: Cine Nazaré – Um cinema vivo – busca resgatar a memória coletiva e afetiva do cinema.

O Cine Nazaré abriu as portas no ano de 1941, em 76 anos de funcionamento, foi palco de muitos romances, histórias e lembranças de uma Fortaleza antiga. O Cine Nazaré é resistência ao período da ditadura militar, ao avanço da tecnologia e da nova forma da organização social. Ele resiste no mesmo lugar, na Rua Padre Graça, no número 65.  O espaço é uma saleta cinematográfica com capacidade para oitenta pessoas, os filmes são projetados com retroprojetores da forma antiga e os clássicos em preto e branco que já não se encontra em quase nenhum acervo da capital.

A produção narra os 76 anos da história do Cine Nazaré, relatando a vida de Raimundo Carneiro de Araújo, o seu Vavá, responsável por manter o cinema vivo até os dias atuais e por conservar todo o maquinário da década de 20 e 30, além do acervo de duas mil películas, títulos que já não são encontrados em nenhum lugar, como: O Ébrio, Dio como te amo, Carmen Miranda. O cinema do bairro Otávio Bonfim é um acervo vivo películas do século passado.

A chegada do cinema falado na capital cearense é datada de 1930. Nesse período, a sociedade passava por mudanças decorrentes do avanço dos investimentos nas áreas de infraestrutura. As salas de cinema foram uma atração para a população. A diversão simples e acessível fez com que as pessoas passassem a frequentar cada vez mais o ambiente cinematográfico.

Os cinemas mais conhecidos de Fortaleza no período citado eram o Cine Majestic (cinema aberto em 1917, por Plácido de Carvalho, no centro de Fortaleza), o Cine Moderno (cinema inaugurado em 1921, pelo grupo Luiz Severiano Ribeiro no centro da cidade) e Cine Polytheama (inaugurado em 1911, levantado no centro de Fortaleza, hoje, no local, está funcionando o Cine São Luiz), sem esquecer a presença de outras salas mais simples, como os presentes nas associações religiosas e leigas.

O avanço da desvalorização do cinema fortalezense reflete não apenas em perdas audiovisuais, mas afetivas e identitárias. Por isso, a importância de recuperar o cinema como instrumento de identidade cultural. A reflexão sobre o cinema permite que a comunidade seja levada a pensar nele como espaço de resistência e memória.

O livro está estruturado em quatro capítulos, cada um retratando diferentes fases da vida do cinema. O capítulo um, denominado “Nasce o Cine Nazaré”, traz informações da construção do cinema e dos primeiros anos de funcionamento. O capítulo dois, que recebe o nome “A reabertura do Nazaré”, traz a segunda fase do cinema, no final dos anos 60 e a forma de organização dele. O terceiro, “Cine Nazaré é resistência”, busca trazer a reabertura do cinema nos anos 2000 e a nova forma de funcionamento. Já a última parte do livro, denominada “Cine Nazaré vive”, procura trazer explicações do que será o Cine Nazaré nos próximos anos.  Julia destaca a importância de retratar o Cine Nazaré:

“Eu queria passar pela graduação deixando para as pessoas uma boa história que elas pudessem passar a diante, eu queria mostrar a importância de fazer jornalismo para as pessoas e o Cine Nazaré foi à concretização do sonho de fazer um jornalismo comunitário. O Cine Nazaré vive e por isso, a necessidade de retratá-lo dando oportunidade para que as próximas gerações conheçam a história de um homem que lutou para que a história do Cinema não fosse perdida. O Cine Nazaré vive.”

Julia Ionele

O livro foi orientado pelo professor e mestre da Universidade Federal do Ceará, Ronaldo Salgado, o precusor da Revista Entrevista e orientador do livro Cine Diogo – O cinema azul.

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