O primeiro ciclo eleitoral realizado após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) marcou um forte baque para partidos identificados como a esquerda no país.
Para especialistas, encolhimento da esquerda seria resultado da crise econômica na gestão petista e escândalos de corrupção



O PT foi o principal derrotado, mas as outras três siglas associadas à centro-esquerda com maior representação na Câmara dos Deputados (PSB, PDT e PC do B) também recuaram no grupo do chamado G-93. Com 26 capitais e todas as cidades com mais de 200 mil eleitores, esses 93 municípios reúnem 38% da população brasileira e as maiores receitas do país.

O PT, por exemplo, tinha 14 prefeituras nesse grupo, mas agora administrará apenas uma – Rio Branco, no Acre. O partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu as sete cidades em que disputou segundo turno neste domingo – foi derrotado, por exemplo, no Recife e ficará pela primeira vez sem prefeitura no ABCD paulista, berço histórico da sigla.

A sigla perdeu as prefeituras de São Paulo e Goiânia, e de cidades importantes em São Paulo como Guarulhos, São Bernardo do Campo e São José dos Campos. No total nacional, o PT foi de 638 prefeitos eleitos em 2012 para 254 neste ano – de 11,2 milhões de eleitores sob sua gestão nas cidades, passará a apenas 1,6 milhão.

“Sensação” da eleição municipal anterior, em 2012, o PSB tinha 11 prefeituras no grupo das maiores cidades, mas saiu das urnas neste domingo com somente seis. Conseguiu manter Recife, Campinas e Palmas, mas perdeu Belo Horizonte, Cuiabá e Porto Velho.

Considerando todos os municípios, o PSB administrará 415 cidades, ante 440 em 2012. Também terá menos eleitores sob uma administração da sigla: 4,7 milhões, contra 6,1 milhões há quatro anos.

O PDT elevou o número total de prefeitos (307 para 335), mas perdeu terreno no G-93: de 12 para quatro prefeituras. Das cinco capitais que administrava, manteve três (Fortaleza, Natal e São Luís).

O PC do B, aliado mais fiel do PT nas gestões Lula e Dilma, teve desempenho semelhante: avançou no total nacional (54 para 81 cidades), porém recuou nos maiores centros (três para uma cidade no G-93). A sigla perdeu cidades importantes como Contagem (MG) e Olinda (PE).
PSOL e Rede

Outras legendas de esquerda com representação na Câmara (PSOL e Rede) tiveram performance modesta no pleito de 2016.

O PSOL perdeu nas três cidades em que disputava o segundo turno – Belém (PA), Rio de Janeiro e Sorocaba (SP) – e ficou com apenas duas prefeituras em todo o país. A Rede elegeu sete prefeitos – entre eles Clécio Luís, em Macapá (AP).

O resultado da Rede, é fruto de sua “incapacidade de articulação”. A Rede é o partido que nunca foi. Está sendo punida pela sua própria incapacidade de estruturar candidatos e discurso Brasil afora.
PSDB e PMDB

O segundo turno reforçou o cenário descrito pela primeira rodada da eleição, com o PSDB emergindo como a principal força nas urnas.

Políticos tucanos administravam 18 cidades do G-93, o grupo das capitais e cidades com mais de 200 mil eleitores, e passarão em 2017 apo comando de 28.

O PSDB venceu 14 dos 18 segundos turnos que disputou. Será ainda a sigla a administrar o maior número de eleitores nas cidades (13 milhões) e a maior quantidade de capitais: 7.

O PMDB, partido do presidente Michel Temer, manteve a liderança no total de prefeituras (1.021 em 2012 e 1.038 em 2016), mas administrará menos eleitores (9,5 milhões para 8,1 milhões).

A sigla melhorou seu desempenho no grupo do G-93: 10 para 14 cidades, e gerenciará quatro capitais (tinha duas): Boa Vista, Goiânia, Florianópolis e Cuiabá. Das 15 cidades em que a legenda estava nas urnas no segundo turno, venceu em nove.

Os bons resultados de políticos tucanos são resultado direto do desgaste petista. O PSDB é um dos maiores partidos do país em termos de estrutura em governos estaduais e municipais, e sempre fez nacionalmente o contraditório do PT, então seus quadros nestas cidades acabaram sendo beneficiados pelo desgaste de seus adversários.

O pleito de 2016 reforça a tendência de pulverização do sistema político verificada nas eleições de 2014. Siglas de menor expressão assumirão grandes cidades, como Belo Horizonte (PHS, com Alexandre Kalil), Curitiba (PMN, com Rafael Greca) e Rio de Janeiro (PRB, com Marcelo Crivella).

Ao todo, 13 partidos venceram disputas em capitais, ante dez que hoje comandam essas prefeituras. Há ainda novas legendas no grupo do G-93: PMB (Caucaia, CE), PTN (Osasco, SP), Solidariedade (Olinda, PE), PSC (Cascavel, PR), PHS (BH e Betim, MG) e PTB (Canoas, RS e Anápolis, GO).
Abstenções e inválidos

Os altos índices de votos brancos, nulos e abstenções Brasil afora são um ingrediente importante da eleição deste ano, apontam analistas.

Ao todo, 25,8 milhões de eleitores compareceram às urnas neste domingo, entre 32,9 milhões aptos a votar. Não votaram, portanto, cerca de 7 milhões de pessoas – índice de abstenção de 21,5%.

No Rio de Janeiro, a abstenção chegou a 26,8% (1,3 milhão de pessoas) e houve 569,4 mil votos nulos.

O desinteresse registrado nas sessões eleitorais revela uma aparente contradição. Muitos dos que não votaram fizeram isso porque se desiludiram com a política e esperam uma renovação de valores.

As abstenções e votos inválidos também geram mais uma preocupação para os prefeitos eleitos. Estes prefeitos já têm que lidar com a oposição tradicional, aqueles que defendem seus rivais políticos. Agora eles têm que lidar também com uma ‘segunda oposição’: o grupo dos indiferentes, que se afastou do processo político.
Com informações: Da BBC Brasil em São Paulo

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