Reduções na conta de luz e na gasolina podem oferecer alívio significativo ao bolso do consumidor

O preço de alimentos e transportes não tirou a pressão da inflação em outubro, mas especialistas afirmam que reduções na conta de luz e na gasolina podem oferecer alívio significativo ao bolso do consumidor em novembro, com chances inclusive de uma rara deflação no período.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 0,45% em outubro, o maior índice para o mês desde 2015, quando chegou a 0,82%, informou o IBGE na quarta-feira (7).

Em relação a setembro, o indicador recuou apenas 0,03 ponto percentual. Mas o número veio bem abaixo da expectativa do mercado para outubro, de 0,56%, segundo analistas ouvidos pela agência Bloomberg.

Juntos, os grupos de alimentação e transportes foram responsáveis por 43% das despesas familiares e 71% da inflação do mês passado.

“Em que pese o impacto grande dos combustíveis na inflação, já se apresenta um processo de redução nos preços, movimento que iniciou no último mês e deve continuar”, diz Lucas Nobrega Augusto, economista do banco Santander.

Na segunda-feira (5), a Petrobras anunciou o maior corte no preço médio da gasolina nas refinarias desde que sua política de reajustes diários entrou em vigor, em julho do ano passado.

A estatal reduziu o valor do combustível em 6,35%, e isso após já ter realizado um amplo corte de 6,2% em 31 de outubro. Nesta quarta, a Petrobras informou mais uma ligeira redução (-0,48%), levando o preço da gasolina para R$ 1,7082 por litro a partir desta quinta-feira (8). É o menor valor desde abril deste ano.

Segundo especialistas, os preços do combustível cedem acompanhando a valorização cambial no país (fortalecimento do real ante o dólar), ao mesmo tempo em que o valor do barril de petróleo no exterior cai.

Impactos como os reajustes da Petrobras, no entanto, estão sujeitos à magnitude do repasse de preços que distribuidores e revendedores farão ao consumidor.

“O repasse não é total à bomba. Trabalhamos com algo em torno de 40%. E também não é automático, demora entre 20 e 30 dias para que chegue ao consumidor”, diz Ederson Schumanski, economista do Banco Cooperativo Sicredi.

Na previsão de Schumanski, a gasolina, cujo preço avançou 2,2% em outubro, deve cair 1,5% em novembro e mais 3% no mês seguinte, a depender também do comportamento do etanol, que responde por cerca de um quarto da composição do combustível na bomba.

Em novembro, deve se somar à questão da gasolina o gasto menor com energia. Neste mês, será aplicada na conta de luz a bandeira tarifária amarela, que cobra R$ 1 a cada 100 kWh (quilowatts-hora). Desde junho, vigorava a bandeira vermelha, de R$ 5 a cada 100 kWh.

Com a mudança, a energia elétrica pode registrar queda de 5,6% em novembro, diz Schumanski.

Basiliki Litvac, economista da MCM Consultores, cita como contribuições adicionais para o recuou do IPCA em novembro algum alívio na alta de alimentos, com a moderação dos aumentos dos produtos in natura após as expressivas elevações de outubro.

“Artigos de residência e vestuário podem ceder com os descontos e promoções da Black Friday/Black November no comércio varejista”, acrescenta.

Segundo Lucas Nobrega, do Santander, “há uma alta probabilidade de observarmos deflação em novembro”. O banco trabalha até o momento com um IPCA de -0,11% no mês. “Mas estamos atualizando, pode ser até abaixo disso, se o estresse em alimentos se mantiver em itens específicos”, completou.

A MCM projeta uma deflação entre 0,05% e 0,10% em novembro.

De acordo com dados livres de efeitos sazonais do IBGE, a última vez que um mês de novembro registrou inflação foi em 1998: -0,10%.

RESISTÊNCIAS

Na projeção de Schumanski, do Sicredi, o IPCA de novembro ainda deve terminar positivo em 0,02%.

Ele pondera que uma eventual deflação poderia ser freada pelo reajuste de 8,5% no gás de cozinha, em relação ao valor vigente desde julho, e a repasses residuais da alta do dólar no ano para alimentos no atacado.

No cenário do Sicredi, o IPCA deve fechar 2018 a 4,2%. “É uma inflação confortável para o Banco Central manter a Selic [taxa básica de juros] em 6,5% até meados de 2019”, diz o economista do banco cooperativo.

No último Boletim Focus, do BC, a previsão dos analistas é que a Selic feche o próximo ano a 8%.

Fernando Gonçalves, gerente da pesquisa no IBGE, diz ainda que o mercado de trabalho brasileiro em lenta recuperação contribui para que não haja uma pressão por parte da demanda.

“Vimos recentemente que houve redução na desocupação, mas quem absorveu esses trabalhadores foi a informalidade, um grupo cuja renda acaba sendo mais instável”, afirma, em referência aos dados da última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE.

Com informações da Folhapress.

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